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O Gatinho Laranja de Nossa Senhora

  Durante os meses em que o mundo ainda não sabia do milagre, havia silêncio, havia

 espera, e havia um pequeno corpo quente que se enroscava aos pés de Maria. Um

 gatinho laranja, de olhos verdes, seguia-a pelas manhãs e se deitava junto ao seu ventre

 crescente como quem pressente a vida.

 Ele não falava, mas compreendia. Não rezava, mas estava presente. E em sua presença

 havia uma paz antiga, como se os céus tivessem derramado nele uma faísca da luz que

 um dia nasceria de dentro dela.

  José, sempre atento, via a ternura com que o animal se aproximava de Maria. Não tinha

 ciúmes, pois entendia: até o menor dos seres se tornava consolo, quando se carrega o

 peso de um segredo divino. Ele mesmo, silencioso e firme, era outro tipo de presença, a

 de quem constrói abrigo com as mãos, enquanto sustenta o mistério com o coração.

  Maria, nos dias em que as dores se misturavam à esperança, repousava a mão no pelo

 quente do gatinho. Ele ronronava como se o tempo todo estivesse dizendo: tudo está

 bem. E talvez estivesse. Porque mesmo no mundo inquieto, havia ternura, na palha do

 chão, no olhar de José, e naquele pequeno animal que parecia saber mais do que devia.

  Na história que se contaria por séculos, seu nome não seria lembrado. Mas Maria o

 levou no pensamento, ao contemplar o céu estrelado de Belém. Entre anjos e reis, havia

 também a memória suave de um amigo miúdo, que a amou no tempo em que ela ainda

 esperava o Amor em forma de criança.


   O gatinho se chamava Bartolomeu.



           Pe. Luís Erlin, CMF